08/01/2014

Sabia que o uso prolongado da chupeta/dedo pode ter consequências negativas no desenvolvimento das crianças?

Todos os bebés nascem com vários reflexos essenciais para o seu desenvolvimento e sobrevivência, entre os quais o reflexo de sucção. A partir dos 3 meses de vida a sucção deixa de ser um reflexo e passa a ser um ato voluntário. Desde esta altura, o bebé pode sentir necessidade de sugar o dedo ou a chupeta como forma de se acalmar, de continuar a sensação de prazer que sente durante a alimentação ou como forma de exercitar o mecanismo de sucção, o qual poderá ter ocorrido de forma insuficiente durante a alimentação.

Quando largar a chupeta?
A idade limite para largar a chupeta situa-se entre os dois anos e dois anos e meio. Quanto mais tempo o hábito de sucção na chupeta ou no dedo permanecer, principalmente depois da erupção dos dentes, maior o risco de o desenvolvimento da criança ficar prejudicado.
De notar que a retirada da chupeta deve ocorrer de forma gradual, favorecendo sempre o desenvolvimento emocional saudável da criança. Para tal, deverá ser realizada uma preparação emocional e fazer com que a criança tenha um papel ativo durante o processo de remoção da chupeta. Isto pode ser feito, por exemplo, reduzindo os contextos de utilização da chupeta (só usar no quarto ou na hora da sesta), pôr a chupeta no lixo com a ajuda da criança mostrando-lhe que já não é um bebé para a usar, etc.

Alterações advindas da utilização prolongada da chupeta/dedo:

(Imagens retiradas da Internet)
  • Alterações no desenvolvimento craniofacial (por exemplo, reduzido desenvolvimento da mandíbula e/ou maxila);
  • Alterações dentárias: mordida aberta anterior, mordida cruzada, diastemas (espaço entre os dentes), protrusão (projeção) dos incisivos superiores;
  • Palato atrésico (céu da boca muito alto);
  • Alterações na musculatura da língua, lábios e bochechas;
  • Alterações da fala: as alterações no posicionamento dos dentes e da língua, advindas do uso prolongado e excessivo da chupeta/dedo, poderão impedir uma correta articulação verbal das palavras. Além disso, estas alterações ao nível da fala poderão ainda surgir pelo facto de a criança se recusar a retirar a chupeta/dedo da boca enquanto fala, o que faz com que os sons sejam produzidos de forma incorreta;
  • Respiração oral;
  • Alterações da mastigação;
  • Alterações da deglutição (movimentos alterados da língua);
  • Dificuldades no controlo da saliva;
  • Maior probabilidade de desenvolvimento de otites médias.
Nota: Estas alterações ao nível do sistema estomatognático dependem da frequência, intensidade, duração e da interação com o padrão de crescimento da criança.

Papel do terapeuta da fala
Cabe ao terapeuta da fala desenvolver campanhas de divulgação e prevenção, no sentido de esclarecer dúvidas e fornecer orientações aos pais acerca das atuações mais corretas de forma a propiciar um crescimento harmónico das estruturas fonoarticulatórias. Assim, uma atuação precoce e uma orientação bem direcionada evitará problemas de fala, de oclusão, de mastigação e de deglutição, os quais se podem encontrar em crianças em idade mais avançada ou na adolescência.

Bibliografia:
  •    Cunha, V.L.O. (2001). Prevenindo problemas na fala: pelo uso adequado das funções orais. São Paulo: Pró-fono;
  •    Ferraz, M. da C. (2001). Manual Prático de Motricidade oral: Avaliação e tratamento (5ª Ed.). Rio de Janeiro: Revinter;
  •     Ignancchiti, P.R., Gesualdi, K.C., Cursage, F.P. & Almada, R.O. (2003). Hábito de sucção de chupeta e mordida aberta anterior na criança com dentição decídua. Revista CEFAC, 5 (1), 241-245;
  •     Marchesan, I.Q. (1998). Fundamentos em Fonoaudilogia: Aspectos Clínicos da Motricidade Oral. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
  •    Nagem, T.M. (1999). Chupeta e mamadeira: Quem quer, a criança ou seus pais?. Revista CEFAC, 1 (2), 48-55;
  •    Warren, J.J., Bishara, S.E., Steinbock, K.L., Yonezu, T. & Nowak, A.J. (2001). Effects of oral habits’ duration on dental characteristics in the primary dentition. The Journal of the American Dental Association, 132 (1), 1685-1693;
  •    Zemlin, W. R. (2002). Princípios de Anatomia e Fisiologia em Fonoaudiologia. Porto Alegre: Artmed.

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